quarta-feira, 17 de junho de 2015

Crítica de Evill Rebouças - Saltimbembe Mambembancos

SALTIMBAMBE MAMBEMBANCOS: A ARTE DO ENCONTRO ENTRE ESPETÁCULO E PLATEIA 

por Evill Rebouças


Saltimbembe mambembancos, com dramaturgia, direção e produção dos integrantes do Circo Teatro Rosa dos Ventos reúne quadros, situações e números circenses presentes na tradição popular. No entanto, por mais que revisitem o que já é consagrado, Fernando Ávila (Dez pra Sete), Gabriel Mundo (Beterraba), Luís Valente (Tiuria) e Tiago Munhoz (Custipíl de Pinóti) imprimem particulares leituras e intervenções que resultam em deleite ao espectador. 

Acompanhados musicalmente por Robson Toma (Nicochina), os rapazes em questão – aqui denominados meninos para fazer jus à aura brincante instaurada na arte e na vida – brincam literalmente em trabalho. Tal brincadeira é tão potente que não há como diferenciar o que é ficção e o que é real, a ponto de aproximar o trabalho dos meninos ao conceito de presentificação do corpo: denominação bastante utilizada na performance para distinguir aspectos entre representação e performatividade. Isto é, no teatro, comumente, o ator representa a ficção; já na performance, geralmente, o artista prima pela não representação, pois não existem limites ou separações entre o que é ficcional e a sua vida. Se o performer tem sotaque, essa sonoridade se fará presente, independente da figura retratada na performance ser de outra região; um corte no corpo jamais será algo representado por maquiagem, mas realizado no corpo do atuante; e no caso dos meninos do Rosa dos Ventos essa potência chega à cena porque eles se desnudam enquanto cidadãos, sem negar o tempo real do acontecimento teatral e as situações que permeiam as suas criações poéticas. 

Antes de o espetáculo começar (se é que podemos dizer que ele não começou), os meninos promovem uma relação de aquecimento com o espectador por mais de uma hora. Expõem, qual performers, o real: se maquiam, vestem figurinos, colocam pernas de pau e conversam sobre amenidades entre eles e plateia. Essa relação é tão verdadeira e humana que um número enorme de crianças se disponibiliza para erguê- los sobre as pernas de pau. Hilário é o momento em que uma das crianças assume a função de almofada, caso o palhaço que será levantado venha a cair. A confiança nos atuantes e o entendimento do jogo são tão verdadeiros que, um homem, depois de ser equipado com capacete e fralda descartável, vê claves passarem rentes ao seu corpo; uma criança se deita no chão e permite que Beterraba faça acrobacias sobre ela. 

Ter o espectador incorporado ao espetáculo não é tarefa nada fácil, principalmente quando ele percebe que a ficção o coloca em constrangimento. Em Saltimbembe mambembancos a empatia conquistada entre artistas e plateia deriva-se, dentre outros aspectos, da flexibilidade ficcional posta em cena. Por mais que exista uma sequência de quadros, de números circenses e de piadas, o ato de estarem em cena prepondera sobre qualquer artifício ficcional. Não existe mais um texto pré-fixado, mas uma escuta afinada entre os integrantes e repertório conciso que pode ser acionado a qualquer momento. Risco. Risco total: humanidade. 

Para que por a arte a frente da vida se não conseguimos fazer arte sem vida? Literalmente esse é o princípio ideológico e poético vivenciado e compartilhado por esse coletivo de artistas, singelos e avassaladores no trato com a vida e com suas criações poéticas. Vida longa a meninice presente no trabalho do Rosa dos Ventos! 

Evill Rebouças é dramaturgo, encenador, ator, professor de artes cênicas e um dos fundadores da Cia. Artehúmus de Teatro. Recebeu diversas indicações e prêmios, dentre eles, APCA, Shell e Cooperativa Paulista de Teatro. Licenciado em artes cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp e pela mesma instituição recebeu o título de mestre com a pesquisa “A dramaturgia e a encenação 



Esta crítica foi produzida após a apresentação do espetáculo no OXANDOLÁ (IN)FESTA, no dia 23 de maio às 20 horas na Praça Juvenal Hartmann - cidade de Francisco Morato - SP

Foi publicada no seguinte endereço:
https://dl.dropboxusercontent.com/u/1284723/Oxandola%202015/resenhas%20Oxandol%C3%A1%202015/Mambembancos.pdf



sexta-feira, 12 de junho de 2015

Gran Finale!!!

Chegamos ao final de mais um projeto fantástico, lindo!




Com o apoio do ProAC para montagem e circulação de Espetáculos Circenses circulamos com a peça “Hoje Tem Espetáculo!!!” (2001) em 10 municípios do Estado de São Paulo. A circulação é comemorativa dos 15 anos do Grupo Rosa dos Ventos.

Foi tão bom fazer 15 anos que ja temos 16 e ainda estamos comemorando os 15 anos!

Além de oferecer apresentações gratuitas ao público, o projeto também atingiu o objetivo de retrabalhar espetáculo, isto é, sua atualização, para fortalecê-lo no repertório do grupo. Esse processo aconteceu durante o período que antecedeu e, mesmo, durante a circulação a partir das experiências com o público. Figurino, cenário, inserção de novo ator, reconfiguração e melhoria técnica de cenas estão entre os aspectos trabalhados e que requalificam o espetáculo nesse novo momento do grupo depois 14 anos da sua estréia.

A circulação teve início em 13 de março de 2015, em Presidente Prudente, em apresentação na rua em frente ao Galpão Cultural Lua Barbosa, e foi concluída em 12 de abril num bairro de periferia pobre da cidade de Ribeirão Preto (Comunidade do Simione).

Apresentamos para um público estimado de 2.750 pessoas. 

O projeto atingiu os municípios de Presidente Prudente, Salto Grande, Paraguaçu Paulista, Rancharia, São José dos Campos, Osasco, Sandovalina, Santos e Ribeirão Preto. Essa circulação só foi possível graças aos apoiadores de cada local: Federação Prudentina de Teatro e Artes Integradas (Presidente Prudente); Prefeitura Municipal de Salto Grande; Prefeitura Municipal de Paraguaçu Paulista; Prefeitura Municipal de Rancharia; Prefeitura Municipal de Martinópolis; Prefeitura Municipal de São José dos Campos e Fundação Cultural Cassiano Ricardo (São José dos Campos); Prefeitura Municipal de Osasco e Companhia de Teatro Dos Ventos (Osasco); Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (Sandovalina); Vila do Teatro (Santos); Cia Pé de Chinelo e Mamute Malabarismo (Ribeirão Preto) e; Movimento de Teatro de Rua de São Paulo.

ESTIMATIVA E TOTALIZAÇÃO DE PÚBLICO

CIDADE PUBLICO
Presidente Prudente 190
Paraguaçu Paulista 350
Rancharia 250
Martinópolis 300
Salto Grande 180
São José dos Campos 350
Osasco 500
Sandovalina 80
Santos 350
Ribeirão Preto 200
TOTAL 2.750

Mais detalhes da circulação como vídeos, fotos, relatos de cada cidades podem ser conferidos no blog do projeto:

http://hojetemespetaculorosadosventos15anos.blogspot.com.br/

Maravilha! Que venha o próximo projeto!



quinta-feira, 4 de junho de 2015

Rosa dos Ventos participa de Feira que discute o cenário sociopolítico do Brasil no Memorial da América Latina

A Praça das Sombras, do Memorial da América Latina, recebe, entre os dias 4 a 7 de junho, a II Feira Antropofágica de Opinião. Inspirada na criação do dramaturgo Augusto Boal (1931 - 2009), terá três palcos para apresentações teatrais com grupos de teatros e intervenções de músicos, poetas, artistas plásticos e coletivos de cinema, que provocam e se manifestam em torno da ideia “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?”, mesma indagação que inspirou a iniciativa de Boal, em 1968, ano da instituição do AI-5.

Serão 40 grupos de teatro em quatro dias de eventos. A Feira é produzida pela Companhia Antropofágica e acontece de 04 a 07 de junho, das 14h às 22h, no Memorial da América Latina, na Barra Funda, São Paulo. São três palcos reservados às apresentações teatrais com encenações de 15 a 30 minutos. As apresentações musicais serão em um palco específico. Já a projeção de audiovisuais acontece ao ar livre, podendo ser vista de diversas partes do evento.

O Grupo Rosa dos Ventos será um dos grupos que participa da Feira, a nossa cena “O Brasil do Dunha”, traz reflexões cômicas dos palhaços do grupo sobre alguns pensamentos do Geógrafo Milton Santos (1926 – 2001). Com uma proposta de roda de rua tratamos de temas como o pensamento do homem simples a cicatrização do pensamento violento e Fascista presentes nos discursos atuais, o espaço luminoso e o espaço opaco e os diversos Brasis que existem.

A inspiração da Cia Antropofágica vem da primeira Feira Paulista da Opinião realizada em 1968 com direção geral do ensaísta e dramaturgo Augusto Boal(1931-2009), aquele evento aconteceu quando entrou em vigor o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marca o período mais duro da ditadura militar (1964-1985).

Para driblar a censura, acontecia em teatros, cujos diretores com peças em cartaz, cediam uma parte do seu tempo para a feira. Nomes das artes cênicas como Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso (1931-1990), Plínio Marcos (1935-1999), entre outros, e da música como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, e artistas plásticos, como Nelson Leirne, participaram da empreitada.

A psicanalista e atriz Cecília Boal, viúva do dramaturgo, diz que “esta era uma feira itinerante e cigana, que se tornou uma romaria”. Cecília participará da mesa de abertura da feira 2015. Em fevereiro de 2014, a Companhia Antropofágica retoma a ideia dos seus idealizadores com a mesma pergunta norteadora de Boal: “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?”.

A II Feira Paulista de Opinião, da lugar à I Feira Antropofágica de Opinião, que aconteceu no Espaço Cultural Tendal da Lapa. Desta vez, com a impressão digital da Companhia Antropofágica, fundada em 2002, com o conceito de brasilidade do Manifesto Antropófago e da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre outras atividades, a reedição da feira contou com palestras e a presença de participantes da feira de 1968. Contou também com a reapresentação do livro Teatro do Oprimido [Augusto Boal, Cosac Naify].

Boal teve na luta a marca de sua arte. Foi preso e torturado pela ditadura. Criou o Teatro do Oprimido, que procurava tomar a arte teatral como uma ferramenta de luta, de tomada de consciência, de intervenção, feita por e para os explorados e oprimidos. É nesse espírito que a Antropofágica o retoma, convidando outros artistas. Teatro como reflexão crítica da realidade, e ferramenta de luta para a transformação social.


SERVIÇO:
O que: II Feira Antropofágica de Opinião
Quando: 04 a 07 de junho, 14h às 22h
Onde: Memorial da América Latina (Estação Barra Funda do Metrô)
Quanto: Gratuito

Rosa dos Ventos:
O Brasil do Dunha – dia 05 de junho às 16 horas

Mais Informações:
Companhia Antropofágica
Espaço Pyndorama – Rua Turiassu, 481, Perdizes – São Paulo (Próximo ao metrô Barra Funda)
Informações: (11) 3871-0373 ou (11) 9.9269-0189
Site: http://www.antropofagica.com